É assim tão estranho desejar um emprego mais decente?
Não quero com isto dizer que nenhum emprego seja decente, o que quero dizer é que a partir de uma certa idade e experiência em trabalho é errado querer evoluir para algo melhor?
Trabalhar em supermercados ou vender gelados em praias, acho que são bons exemplos para se iniciar no mundo do trabalho. Aos 18 anos, quando queres começar a trabalhar. São bons trabalhos para começarmos novos e cheios de vida. Mas já não me faz tanto sentido fazer isso aos 25 anos, isto se já tiver alguma experiência em trabalho, nomeadamente em caixas de supermercado.
Comecei a trabalhar com 18 anos. Fui caixeiro na Worten. O tempo que lá estive foi curto. Ao fim de seis meses mandaram-me para casa. Mas tenho de admitir que foram seis extraordinários meses. Não digo que adorei trabalhar lá, mas foi sem dúvida a melhor forma de começar a trabalhar. A ideia que eu tinha do trabalho ser um bicho papão com patrões terríveis desmistificou-se para me aperceber de trabalhava e lidava com pessoas. Para alguns será uma constatação óbvia e sem sentido. Eram pessoas normais, que tinham a sua própria vida e os seus próprios problemas e lidavam-nos como a cada um desses indivíduos aprouvesse. É assim que somos todos. E as pessoas são simplesmente pessoas. Por vezes, aos meus olhos, há pessoas que são idiotas, outras são simpáticas, etc. A forma como cada pessoa nos trata, depende da forma como nos deixamos afectar por isso e de como reagimos. Mas desvio-me do assunto principal.
Após este trabalho, e ainda com as músicas e os trailers de filmes, que passavam em loop nas colunas e nas televisões, na minha memória, procurei nos meses seguintes por trabalho, sem ter sucesso. Decidi tirar um curso de restauração e ao fim de um ano e meio começava a dar frutos. Durante dois anos trabalhei na área da restauração e hotelaria. Depois larguei esta área e fui seguir aquilo que (por enquanto, quem sabe?!) creio ser o meu sonho, ou pelo menos parece que me completa. Formei-me em artes performativas. Durante o curso, fui trabalhar para o estrangeiro, num pequeno hotel rural afastado da cidade. Neste país reparei que todas as pessoas que trabalhavam em lojas de roupa, informática e caixas de supermercado eram jovens, com cerca de 15 ou 16 anos, os mais novos, e cerca de 20 os mais velhos. Descobri que com cerca de 10 anos, as crianças do país são incentivadas a trabalhar limpando os jardins locais, cortando folhas de árvores, aparando a relva, tirando lixo do chão - coisa rara, na verdade. Onde simplesmente vi pessoas mais velhas a trabalhar, e quando digo mais velhas refiro-me a pessoas entre os 30 e os 50 anos, seria em hospitais ou como gerentes de lojas ou de restaurantes.
Os jovens que conheci nesse país, pelo menos os mais experientes, jovens entre os 18 e os 20, faziam-me sentir como se eu fosse um puto que estava a prestes a atingir a puberdade. Tinham uma noção da realidade, daquilo que desejavam fazer e um sentido de responsabilidade que me ultrapassavam. Talvez esteja a exagerar, eles não me faziam sentir um puto prestes a chegar à puberdade. Mas com 18 ou 20 anos a única coisa que eu queria era viver o dia e ser feliz e isto era a minha visão naive do mundo. Estes já não tinham isso. Com 18 anos já pensavam em comprar o carro deles com o dinheiro que iriam ganhar, fruto do seu próprio mérito. É verdade que vivem num país pequeno e com um sistema económico que lhes adequa. Também é verdade que eu, aos 18 anos, tinha como lema de vida viver a vida como se todos os dias fosse o último dia da minha vida - e tenho de confessar que fui um desastre total a seguir esta máxima porque sou muito mole, por outro lado ainda bem porque não sei onde é que isso me levaria -, o que não significa que todos os jovens de 18 anos pensem da mesma forma.
Onde quero chegar com esta história é que senti que me foi revelada uma noção diferente daquilo que devo desejar para mim. Agora quero trabalhar. Mas não quero trabalhar numa caixa de supermercado. Não me devia sentir mal por pensar assim, mas sinto. Sinto-me mal porque me sinto na obrigação de fazer alguma coisa, mas isso implica ter de fazer algo que eu não quero.
Achas que estou a ser injusto? Achas que estou a pensar de forma errada?
Não quero com isto dizer que nenhum emprego seja decente, o que quero dizer é que a partir de uma certa idade e experiência em trabalho é errado querer evoluir para algo melhor?
Trabalhar em supermercados ou vender gelados em praias, acho que são bons exemplos para se iniciar no mundo do trabalho. Aos 18 anos, quando queres começar a trabalhar. São bons trabalhos para começarmos novos e cheios de vida. Mas já não me faz tanto sentido fazer isso aos 25 anos, isto se já tiver alguma experiência em trabalho, nomeadamente em caixas de supermercado.
Comecei a trabalhar com 18 anos. Fui caixeiro na Worten. O tempo que lá estive foi curto. Ao fim de seis meses mandaram-me para casa. Mas tenho de admitir que foram seis extraordinários meses. Não digo que adorei trabalhar lá, mas foi sem dúvida a melhor forma de começar a trabalhar. A ideia que eu tinha do trabalho ser um bicho papão com patrões terríveis desmistificou-se para me aperceber de trabalhava e lidava com pessoas. Para alguns será uma constatação óbvia e sem sentido. Eram pessoas normais, que tinham a sua própria vida e os seus próprios problemas e lidavam-nos como a cada um desses indivíduos aprouvesse. É assim que somos todos. E as pessoas são simplesmente pessoas. Por vezes, aos meus olhos, há pessoas que são idiotas, outras são simpáticas, etc. A forma como cada pessoa nos trata, depende da forma como nos deixamos afectar por isso e de como reagimos. Mas desvio-me do assunto principal.
Após este trabalho, e ainda com as músicas e os trailers de filmes, que passavam em loop nas colunas e nas televisões, na minha memória, procurei nos meses seguintes por trabalho, sem ter sucesso. Decidi tirar um curso de restauração e ao fim de um ano e meio começava a dar frutos. Durante dois anos trabalhei na área da restauração e hotelaria. Depois larguei esta área e fui seguir aquilo que (por enquanto, quem sabe?!) creio ser o meu sonho, ou pelo menos parece que me completa. Formei-me em artes performativas. Durante o curso, fui trabalhar para o estrangeiro, num pequeno hotel rural afastado da cidade. Neste país reparei que todas as pessoas que trabalhavam em lojas de roupa, informática e caixas de supermercado eram jovens, com cerca de 15 ou 16 anos, os mais novos, e cerca de 20 os mais velhos. Descobri que com cerca de 10 anos, as crianças do país são incentivadas a trabalhar limpando os jardins locais, cortando folhas de árvores, aparando a relva, tirando lixo do chão - coisa rara, na verdade. Onde simplesmente vi pessoas mais velhas a trabalhar, e quando digo mais velhas refiro-me a pessoas entre os 30 e os 50 anos, seria em hospitais ou como gerentes de lojas ou de restaurantes.
Os jovens que conheci nesse país, pelo menos os mais experientes, jovens entre os 18 e os 20, faziam-me sentir como se eu fosse um puto que estava a prestes a atingir a puberdade. Tinham uma noção da realidade, daquilo que desejavam fazer e um sentido de responsabilidade que me ultrapassavam. Talvez esteja a exagerar, eles não me faziam sentir um puto prestes a chegar à puberdade. Mas com 18 ou 20 anos a única coisa que eu queria era viver o dia e ser feliz e isto era a minha visão naive do mundo. Estes já não tinham isso. Com 18 anos já pensavam em comprar o carro deles com o dinheiro que iriam ganhar, fruto do seu próprio mérito. É verdade que vivem num país pequeno e com um sistema económico que lhes adequa. Também é verdade que eu, aos 18 anos, tinha como lema de vida viver a vida como se todos os dias fosse o último dia da minha vida - e tenho de confessar que fui um desastre total a seguir esta máxima porque sou muito mole, por outro lado ainda bem porque não sei onde é que isso me levaria -, o que não significa que todos os jovens de 18 anos pensem da mesma forma.
Onde quero chegar com esta história é que senti que me foi revelada uma noção diferente daquilo que devo desejar para mim. Agora quero trabalhar. Mas não quero trabalhar numa caixa de supermercado. Não me devia sentir mal por pensar assim, mas sinto. Sinto-me mal porque me sinto na obrigação de fazer alguma coisa, mas isso implica ter de fazer algo que eu não quero.
Achas que estou a ser injusto? Achas que estou a pensar de forma errada?
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